Inverno da Alma

É praticamente impossível não associar o novo filme independente de Debra Granik com o recente “Rio Congelado“, produção conduzida pela cineasta Courtney Hunt responsável em por em tardia evidência o talento da veterana Melissa Leo, atriz que neste ano colheu novos frutos com sua performance em “O Vencedor”. Isto porque a ação se passa em cenários gélidos, com personagens com estilos de vidas pouco explorados pelo cinema americano. Mas as similaridades da narrativa de “Rio Congelado” com a realizada por Debra Granik em “Inverno da Alma” pouco importam. A elogiada produção arrebata na mais nova edição do Oscar quatro indicações mais do que merecidas.

Se Melissa Leo fez uma mulher cuja situação precária causava pena, difícil é descrever o caso ainda mais drástico de Ree Dolly, a personagem central desta adaptação do romance de Daniel Woodrell (“Cavalgada com o Diabo”) e interpretada por Jennifer Lawrence, atriz que já mostrara a que veio em “Vidas que se Cruzam“. É um espanto ver uma jovem de dezessete anos cuidando tanto dos dois irmãos mais novos quanto a mãe depressiva e que não diz uma palavra. A situação financeira é precária. Esta família habita uma residência decadente feita de madeira nas montanhas de Ozark. Ainda assim, um lar. O espaço é ameaçado quando o xerife Baskin (Garret Dillahunt) diz a Ree que o seu pai traficante o colocou sob fiança. Se ele não se apresentar no tribunal em uma semana, todos serão despejados.

A única iniciativa que Ree pode tomar para reverter esta consequência é iniciar uma busca pelo seu pai desaparecido. Estando vivo ou morto, Ree precisará provar o seu paradeiro. E o faz batendo na porta dos seus vizinhos distantes, alguns que têm o mesmo sangue, como o seu tio Teardrop (John Hawkes, extraordinário), e outros que de alguma maneira se envolveram nos negócios obscuros de seu pai. É uma digna via crucis para Ree, destemida mesmo quando sua própria vida é ameaçada.

Essa história densa em alguns instantes emperra com sequências de respiro que focam os irmãos de Ree brincando em paisagens mortas e com personagens secundários nem sempre bem explorados, como o ameaçador Thump Milton (Ronnie Hall), o velho marido de Merab (Dale Dickey) com quem Ree busca informações. Mas este é um filme que cresce em cada um de seus detalhes graças ao trabalho de elenco perfeito. Se justiça fosse feita, Jennifer Lawrence e John Hawkes iriam além o reconhecimento como finalistas ao Oscar e Dale Dickey, assustadora, não seria tão subestimada. Mas é Jennifer Lawrence a verdadeira razão para se ver “Inverno da Alma”, com um trabalho tão crível que em certos momentos parecemos não estarmos diante apenas de uma mera ficção, mas de um retrato de tantas garotas cujas circunstâncias as obrigam a amadurecerem muito antes do tempo.

Título Original: Winter’s Bone
Ano de Produção: 2010
Direção: Debra Granik
Roteiro: Debra Granik e Anne Rosellini, baseado no romance de Daniel Woodrell
Elenco: Jennifer Lawrence, John Hawkes, Garret Dillahunt, Dale Dickey, Lauren Sweetser, Shelley Waggener, Isaiah Stone, Ashlee Thompson, Valerie Richards, Cody Brown, Cinnamon Schultz, Casey MacLaren, Kevin Breznahan, Tate TaylorSheryl Lee e Marideth Sisco
Cotação:  3 Stars

11 Respostas para “Inverno da Alma

  1. Eu gostei, mas não ao ponto de sair falando tão bem.
    Foi louvável o que Pequena Miss Sunchine, filme independente conseguiu na premiação do Oscar, bem depois veio Juno, Preciosa e agora este filme independente que aos poucos conseguiu surpreender nas indicações deste ano. Ele tem uma qualidade boa e a atriz até consegue arrancar boa atuação, mas o filme, assim como Rio Congelado , outro alternativo que chegou na etapa final, cansa um bocado de acompanhar justamente por não acontecer muita coisa. Mas só de estarem mudando a cara do Oscar (isso , vamos combinar, apenas nas indicações) já é um grande feito para os filmes de baixo orçamento.

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