Os Cinco Filmes Preferidos, com Luiz Henrique Oliveira

Luiz Henrique OliveiraConforme uma informação que pode ser lida no comentário de “Rocky Horror Picture Show”, tive a oportunidade de conhecer o Luiz, editor do blog 3 Parágrafos, pessoalmente neste ano na Virada Cultural, a primeira edição que participei. Confesso que fico um pouco nervoso ao conhecer pessoas e arrependido de ter estado distante da poltrona onde ele estava acomodado ao lado de seu amigo Thiago. Mesmo assim, após a sessão, pude conversar com ele no meio da madrugada e tive aquela agradável sensação que que falava com alguém que conheço há um tempo considerável – graças as redes sociais, claro!

Fiquei contente de contar com sua participação neste mero espaço, compartilhando conosco suas maiores experiências audiovisuais. E que numa futura sessão de cinema estejamos aproveitando um entretenimento tão divertido como foi “Rocky Horror Picture Show” sentados em uma mesma fileira de poltronas.

Dando o direito à palavra:

“Atendendo ao convite do Alex, saí de minha pseudo aposentadoria – eu tinha o 3 Parágrafos, quem sabe volte com ele em breve! – para fazer cinco breves comentários sobre os filmes que eu considero importante. Coloquei na ordem da minha preferência, e você que lê isso agora pode concordar ou não com o meu texto. Depende de você!”

 

Contatos Imediatos do Terceiro Grau, de Steven Spielberg (1977, Close Encounters of the Third Kind)Contatos Imediatos do Terceiro Grau, de Steven Spielberg (1977, Close Encounters of the Third Kind)

A minha ligação com “Contatos Imediatos de Terceiro Grau” começou quando eu ganhei meu primeiro aparelho de DVD, isso em 2001. Fui buscar algum lançamento na locadora, e me vendo sem opções, resolvi arriscar com aquela capinha esquisita, multicolorida e bem misteriosa, trazendo uma nave que, sinceramente, achei bem estranha. E ter o nome “Spielberg” acima dos letreiros também ajudou bastante, já naquela época eu era muito fã dele. Pois bem. Estamos em 2010 e ainda pego esse filme para ver pelo menos uma vez por mês, sem enjoar. Encabeça qualquer lista que eu faça. Tudo no filme me arrebatou, desde a história sensacional de contatos com extraterrestres até os efeitos especiais que são melhores do que muita coisa produzida hoje em dia pelo quíntuplo do preço. É o que de melhor o diretor dirigiu e serve como um manifesto das ideias que ele viria a apresentar em seus filmes seguintes, até “amadurecer” com “A Lista de Schindler” e se tornar um diretor sério, de filmes sérios e ficar meio careta. Sua porção sonhadora e idealista fez com que dirigisse suas melhores obras, e por consequência, entrar com a maioria para a História do Cinema. Richard Dreyfuss e François Truffaut são os principais atores, encarnando com dignidade e emoção seus personagens, deslocados do mundo dito real, que agarram seus ideais com firmeza não só por coragem, mas por acreditar em seus sonhos, o que é realmente inspirador. É algo único, ninguém nunca conseguirá criar algo tão intenso e perfeito como “Contatos Imediatos de Terceiro Grau”, o filme das cinco notas.


Gandhi, de Richard Attenborough (1982, Gandhi)Gandhi, de Richard Attenborough (1982, Gandhi)

Sou fã de Ben Kingsley, assisto qualquer coisa da qual ele participe. Ultimamente ele andou escorregando no tomate atuando em coisas bizarras, como num filme daquele diretor que é considerado o pior do mundo, aquele alemão cujo nome só vou lembrar daqui duas semanas. E também esteve naquela bobagem da adaptação de “Prince of Persia”. Sendo assim, é um mistério para mim como é que eu ainda não tinha visto “Gandhi”. Achei para comprar, levei para casa, e ao final de quase três horas eu já estava encantado. Por esse motivo o listei aqui, em segundo lugar. Mesmo que a direção emotiva e competente do Richard Attenborough – que nunca mais fez algo de bom na direção depois desse – que levou anos para concretizar esse projeto, é um filme de atuação, e a atuação é de Kingsley, que incorpora Gandhi, vestindo a túnica branca e falando de paz e amor como se fizesse isso todas as manhãs. Da primeira até a última cena o filme é dele, mostrando-se com energia, sobriedade e grande carisma. Coisa que só voltou a acontecer numa biografia quando Marion Cotillard ressuscitou Edith Piaf em “Piaf – Um Hino ao Amor”. É impressionante. E se nada disso fosse suficiente, convém ao atual público jovem assistir para aprender como se chega a algum lugar sem violência e nem baixaria, como fez o Mahatma no começo do século.


Dr. Fantástico, de Stanley Kubrick (1964, Dr. Strangelove)Dr. Fantástico, de Stanley Kubrick (1964, Dr. Strangelove)

É praticamente impossível a qualquer amante do cinema deixar de incluir alguma coisa do gênio incontestável Stanley Kubrick. Seja em que lista for, é quase obrigação colocar alguma coisa dele. O ruim é escolher o que colocar. Para fugir dos óbvios “2001 – Uma Odisséia no Espaço”, “Laranja Mecânica” e “O Iluminado”, escolhi este, que foi o primeiro contato que tive com o senso de humor (!) de Kubrick. Partindo de uma premissa absurda (ou nem tão absurda assim, tendo em vista as loucuras de certos militares ao redor do mundo…), uma comédia de erros se desenrola de uma forma até exagerada para os padrões kubrickianos. O trunfo está na atuação de Peter Sellers que, como veio a provar em toda a sua carreira, foi um excepcional ator, conseguindo criar, em três papéis diferentes, três personalidades completamente distintas. Isso associado à obsessão tão conhecida do diretor pela perfeição, compondo quadros que caminham de mãos dadas com o surrealismo, causa em quem assiste uma sensação de estranhamento. Estranho, mas engraçado, sem dúvida. Como em toda a sua filmografia, o roteiro é impecável, inteligente e envelheceu pouco. E ah! Tem George C. Scott no elenco. Não tinha mesmo como dar errado.


Rocky Horror Picture Show, de Jim Sharman (1975, The Rocky Horror Picture Show)Rocky Horror Picture Show, de Jim Sharman (1975, The Rocky Horror Picture Show)

Antes do dia quinze de maio do ano corrente, eu só havia visto “Rocky Horror Picture Show” duas vezes: uma no começo da minha adolescência, e outra há poucos anos, em um canal de tevê por assinatura, onde o vi aos pedaços. E em ambas as vezes eu o achei apenas… legalzinho. Entretanto, durante a Virada Cultural desse ano, em São Paulo, o filme passou numa sessão de meia-noite e eu fui conferir acompanhado, entre outros, pelo honorável escrevinhador do Cine Resenhas. E o que vi, na tela grande do Cine SESC, foi algo muito próximo de uma experiência litúrgica. Até o momento em que eu digito isso aqui, foi a melhor sessão de cinema que eu já peguei nessa minha ordinária vida. Até hoje não consigo mais deixar de assistir e cantar coisas como “Hot Patootie” ou “Time Warp”. A mágica desse filme reside em dois pontos cruciais: em primeiro, as músicas fáceis de decorar, que grudam na cabeça igual durepox, são de ritmo ágil e letras marcantes; quem vê o filme fica com a maioria na cabeça por várias semanas. Em segundo, o tom deliciosamente exagerado do filme, com as atuações mais extravagantes (no bom sentido) de Susan Sarandon, Barry Bostwick e de Tim Curry, que rouba cada frame em que aparece com seu magnetismo. É um musical paupérrimo, e como cinema é bem limitado. Mas quem se importa? “Rocky Horror Picture Show” transcende a isso. É viciante.


E.T. – O Extraterrestre, de Steven Spielberg (1982, E.T. the Extra-Terrestrial)E.T. – O Extraterrestre, de Steven Spielberg (1982, E.T. the Extra-Terrestrial)

Não há cineasta que saiba tão bem levar o público às lágrimas como Steven Spielberg. Ainda me lembro do choque que foi ver “E.T. – O Extraterrestre” pela primeira vez; eu era pequeno e no começo fiquei assustado, com um pouco de medo daquele bicho pescoçudo e barrigudo. Normalmente ele me causaria asco, mas o talento de Spielberg o humaniza, trazendo-o como algo absolutamente normal inserido no ambiente suburbano dos Estados Unidos. O mais legal é que o filme poderia se passar em qualquer subúrbio, seja aqui no Brasil ou no Japão, na Alemanha ou na Itália. Em qualquer lugar do mundo. Drew Barrymore estreou no cinema neste filme, fofa como nunca. E tem o Peter Coyote, competente ator que também se destaca nas poucas cenas em que efetivamente aparece. O roteiro flui com naturalidade, e as duas horas do filme passam num passe de mágica. Sem contar a excepcional e, na minha opinião, a melhor trilha que John Williams compôs até o momento, melhor até que seus temas para “Star Wars”, “Indiana Jones” ou “Contatos Imediatos de Terceiro Grau”. Mas o marco mesmo é a direção inspirada do diretor, que se colocou de cabeça no projeto e produziu um filme arrebatador, seja para as crianças ou para os adultos. É um clássico atemporal, e obrigatório em qualquer coleção de grandes filmes da História, e certamente é um dos três melhores filmes da absurdamente criativa década de oitenta.


4 Respostas para “Os Cinco Filmes Preferidos, com Luiz Henrique Oliveira

  1. Não lembraria nenhum desses filmes numa lista onde só cinco entrariam, mas são dois clássicos do Spielberg, um do mestre Kubrick e outro com o fodástico Kingsley, ou seja, uma lista de nível altíssimo. Gostei de ver dobradinha do Spielberg. O diretor anda fazendo filmes medianos, mas ainda é um de meus favoritos e, talvez, aquele que possui um maior número de produções que alcançaram 5 notas na minha opinião. Continuo achando A Lista de Schindler seu melhor trabalho, mas como percebi que o objetivo do Luiz é sair um pouco do óbvio, entendo perfeitamente a escolha desses dois clássicos. Mais uma ótima lista da seção. Parabéns!

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  3. * Alexsandro. O Luiz me antecipou que algum Spielberg entraria na lista dele antes de enviá-la. Particularmente, a melhor obra do diretor é “Minority Report – A Nova Lei”, uma ficção científica a frente de seu tempo. Ainda não vi “Contatos Imediatos do Terceiro Grau”, um grande pecado, mas vê-lo aqui me entusiasmou.

    * Kamila. Um dia quero lhe fazer um convite por aqui. ;-)

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