O Leitor

Ainda que não seja um grande feito no cinema do diretor Stephen Daldry, muitos tem agido de forma injusta em relação da recepção dada ao drama “O Leitor” de acordo com as cinco indicações que obteve na última edição do Oscar, uma surpresa, de fato. Muitos interpretaram que foi o longa a ocupar a vaga deixada por “Batman – O Cavaleiro das Trevas” na categoria de melhor filme. Mesmo sendo uma adaptação de quadrinhos mais soturna do que de costume, era improvável que a Academia considerasse o filme em departamentos mais importantes como o de ator coadjuvante para Heath Ledger, que acabara por levar o prêmio póstumo.

No fim das contas, Kate Winslet foi a atriz que arrebatou o prêmio num papel que seria de Nicole Kidman. Antes cotada como atriz coadjuvante, a Academia reverteu tudo considerando-a uma protagonista. Uma escolha acertada, ainda que sua Hanna Schmitz não seja quem conduza o longa, e sim Michael Berg (o soberbo David Kross na fase adolescente e Ralph Fiennes quando mais velho). Há uma pequena alternância de tempos, mas os dois primeiros atos são reservados no relacionamento de Hanna e Michael, então com quinze anos de idade. Depois de passar mal ao retornar do colégio ele é socorrido por Hanna, que trabalha como cobradora em um bonde. Ele terá a sua primeira relação sexual com esta mulher que tem mais do que o dobro de sua idade e crescerá, assim, uma paixão quase obsessiva. Existe também uma troca de “favores”: Hanna oferece sexo enquanto Michel retribui com leituras, já que Hanna é analfabeta. Entre os romances lidos estão “O Amante de Lady Chatterley” (D. H. Lawrence), “A Odisséia” (Homero), “A Dama do Cachorrinho” (Anton Tchékov) e “Guerra e Paz” (Leon Tolstói).

Incompreendido, “O Leitor” despertou certa fúria da crítica e público por um motivo – somando também com o já mencionado reconhecimento na Academia de Artes e Ciências Cinematográficas -, sendo em relação do seu segundo ato, com ecos sobre a Segunda Guerra Mundial . Neste instante, Michael, já abandonado por Hanna sem razão aparente e um pouco mais velho, cursa direito tendo Rohl (Bruno Ganz) como seu professor. Quando presencia pela primeira vez um julgamento se depara com Hanna, dada como culpada pela morte de centenas de judeus enquanto atuava como vigia no campo de concentração.

Os resultados são tocantes, ainda que não conduzida com a mesma maestria apresentada por Daldry no primeiro ato e em uma sequência nos instantes finais protagonizados por Fiennes e Lena Olin. E neste encontro, mesmo dando margens para diversas interpretações, trás uma descrição mais acertada do que pode ser absorvido sobre “O Leitor”, que é sobre personagens centrais totalmente envolvidos pelo passado trágico que viveram, sendo Michael pela paixão da adolescência da qual não conseguiu superar, Hanna pelos atos monstruosos que cometeu e Ilana (Olin) pela forma como foi atingida pela Alemanha nazista. Nos três casos, somente a coragem em encarar o passado é o caminho para que o episódio seja superado e as dores amenizadas.

Título Original: The Reader
Ano de Produção: 2008
Direção: Stephen Daldry
Roteiro: David Hare, baseado no livro “O Leitor”, de Bernhard Schlink
Elenco: Kate Winslet, David Kross, Ralph Fiennes, Bruno Ganz, Alexandra Maria Lara e Lena Olin
Cotação: 3 Stars

30 Respostas para “O Leitor

  1. Gostei do seu Blog e visitarei aqui com frequência.
    Eu gostei desse filme e acho que Kate Winslet certamente merecia o Oscar ao qual foi indicada. Perdê-lo pela sexta vez seria decerto injusto.
    Acho que há alguns probleminhas com o decorrer do filme, mas de uma maneira geral, eu vi uma obra de qualidade.
    :)

  2. Kate Winslet já fez filmes muito melhores (Brilho Eterno de Uma Mente sem Lembranças, por exemplo) do que este, que é no máximo razoável. A história é legal e tudo o mais, mas falta algo nele.

    Abraços!

  3. Oi Alex! O Leitor é um belo filme, que reconstitui com perfeição o caráter e o temperamento do povo alemão. Talvez por isso, muita gente não tenha gostado, pois essa fidelidade dá uma sensação de distanciamento ao espectador. abs.

  4. Olá Alex, gostei muito desse filme!
    Uma história interessante envolvendo romance e questões de nazizmo, começando pelo primeiro, com destaques para as cenas de sexo e nudez (mostradas com muita delicadeza) de Kate Winslet (excelente, que novidade), ela é disparada a melhor coisa do filme, do meio pro fim o longa ganha novas proporções quando se é revelado o grande trunfo do roteiro que pega tanto o expectador desprevinido como o personagem do novato David Kross, levando a sequência de fatos à bons momentos de reflexão de tudo aquilo que vimos até então, Ralph Fiennes que aparece pouco não causa muita impressão na sua atuação, vivendo o personagem mais velho do garoto. Um trabalho respeitável de Stephen Daldry. nota 8.0!
    Abs! Diego!

  5. Sem dúvida um filme muito bem conduzido e, mesmo aquém dos demais do Daldry, ainda pode ser considerado um belo trabalho do diretor. Agora não acho que o filme foi incompreendido não. Ele passa uma mensagem muito forte que pode ser compreendida de forma equivocada por novas gerações.

  6. Tivemos opiniões muito parecidas, Alex, e também dei nota 7,5 [ou teria sido 7?]. É o mais fraco do Daldry e o seu maior sustento são as atuações e a fotografia.

    E sim, TDK merecia estar no lugar de O Leitor no Oscar. xD

    []s!

  7. Este filme é muito bom, mas só funcionou, para mim, enquanto David Kross e Kate Winslet estavam na tela. As cenas nos tribunais foram marcantes e as melhores de “O Leitor”.

  8. O filme perde o ritmo ao terceiro ato, mas a força do elenco o segura firme e forte. Até lá, é um drama intenso e tenso sobre a vergonha, e como ela nos marca como seres humanos.

    Nota 8.5

  9. Também aredito que muitos foram injustos com o filme! Eu adorei e acho que quem tinha que ser criticado entre os indicados de melhor filme era “Milk – A Voz da Igualdade”, esse sim que não merecia estar entre os cinco…

  10. Gostei bastante de “O Leitor”. Mas é incrível como realmente boa parte da crítica “desceu a lenha” neste filme, principalmente por conta do seu segundo ato. Enfim, mesmo assim foi um dos meus preferidos na categoria de melhor filme do Oscar passado. Abraço!

  11. Luís, obrigado. Dei uma rápida visualizada no Literatura e Cinema e já adianto que achei bem interessante os títulos comentados. Logo farei a leitura de sua última atualização. Eu gostei muito de Kate Winslet, mas gostava mais de outros desempenhos que também concorriam, como o de Meryl Streep, por “Dúvida” e “Melissa Leo”, por “Rio Congelado”.

    Mandy, já eu gostaria de ler “O Leitor”, mas ando com pouco tempo ultimamente…

    Ciro, e qual seria esse “algo”? Abraços!

    Charles, você está coberto de razão. É uma pena, pois acabam por ocultar o que há de melhor no filme: a sua moral sobre a importância do perdão. Abraços!

    O Cara da Locadora, eu achei o melhor filme dentro de todos os indicados este ano.

    Pedro, não se trata de um filme soberbo, mas é muito bom, bonito.

    Diego, “O Leitor” está cercado de grandes desempenhos, mas o meu predileto não foi mencionado por você, sendo o de Lena Olin. E estou ansioso para que Stephen Daldry se envolva em um novo projeto.

    Vinícius, acho sim um filme incompreendido, pois o pessoal praticamente o limitou a “mais um filme sobre o Holocausto” e sabemos que ele não é somente isto.

    Anderson, não acho um filme simplista de forma alguma. E eu gosto da maquiagem de Winslet, rs.

    Brenno, espetacukar, mesmo! Abraços!

    Jeff, “O Cavaleiro das Trevas” não, por favor! :P E você tinha dado 7.5 ao filme. Abraços!

    Filipe, não deixe de ver, reserve para assistir no próximo final de semana. ;-) Abraços!

    Kamila, eu discordo, pois acho que o melhor momento do filme é o com a Lena Olin e o Ralph Fiennes.

    Wally, acho que o filme se perde é na transição de atos, e não no último como um todo, pois acho que o filme não poderia se encerrar de uma melhor maneira.

    Matheus, nem ele e nem “O Curioso Caso de Benjamin Button”.

    Brunoo, impressionante mesmo! Mas é daqueles casos onde o tempo se encarregará de fazer justiça, embora as suas indicações ao Oscar não tenham acontecido por bobeira. Abraço!

    Pedro, exato!

  12. Olá, Alex! tudo bem?

    Gostei bastante de “O Leitor”, realmente tem uma história bem envolvente e que acaba questionando profundas verdades de seus personagens. Tenho bastante vontade de ler a história. rsrs. ;)

    Beijos!

  13. Filmes ditos “incompreendidos” dão bom pano pra manga. Em regra, dão espaço a interpretações, como parece ser o caso. Fiz a asneira de ignorá-lo quando passou nos cinemas, mas consertarei o erro assim que puder…

  14. Gustavo, “O Leitor” é um filme que dá margem a diversas interpretações mesmo. O drama não agrada a todos da mesma maneira e você nota que as razões são diversas. Com o lançamento em DVD há pouco por aqui você talvez pode corrigir esta oportunidade perdida.

  15. Oi Alex!!!

    Conheci o blog em busca de uma explicação para o filme “Sem medo de morrer” e acabei adorando… Parabéns!!!

    Bom, gostei muito de “O Leitor” , com certeza um dos melhores de 2009. Vale a pena ver!

  16. Caroline, acho que muitos estão visitando o espaço graças ao filme “Sem Medo de Morrer”, rs. Agradeço pelos parabéns e retorne por aqui sempre que desejar. E “O Leitor” é, por enquanto, um dos melhores desse ano, de fato.

  17. Seu Blog foi uma feliz descoberta.”Batemos” no gosto de vários filmes e uma visita regular por aqui
    me poupará muito tempo nas locadoras,rs
    abç gde!

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